Era uma vez...


"Em um tempo muito, muito distante, quando a Deusa caminhava sobre a Terra e todas as coisas eram sagradas...
Nas noites encantadas,surgia em meio a floresta misteriosa
um velhinho exausto e tremulo e a Deusa em sua face Anciã,
o tomava em seus braços, se balançando em sua cadeira o embalava, cantando...cantando...
E pela manhã ele saltava de seus braços, agora já uma criança radiante e se alçava aos céus para raiar o dia.
Ele é a Criança Solar, Ela é a Mãe de todas as coisas..."

16 de novembro de 2014

Despalavra

Hoje eu atingi o reino das imagens, o reino da despalavra.
Daqui vem que todas as coisas podem ter qualidades humanas.
Daqui vem que todas as coisas podem ter qualidades de pássaros.
Daqui vem que todas as pedras podem ter qualidade de sapo.
Daqui vem que todos os poetas podem ter qualidades de árvore.
Daqui vem que os poetas podem arborizar os pássaros.
Daqui vem que todos os poetas podem humanizar as águas.
Daqui vem que os poetas devem aumentar o mundo com suas metáforas.
Que os poetas podem pré -coisas, pré-vermes, podem pré-musgos.
Daqui vem que os poetas podem compreender o mundo sem conceitos.
Que os poetas podem refazer o mundo por imagens, por eflúvios, por afeto.

10 de outubro de 2014

eles...

"Eles se disseram, assim eles dois, 
coisas grandes em palavras pequenas
 ti a mim, me a ti, e tanto".
João Guimarães Rosa

6 de outubro de 2014

A Mulher Esqueleto

 
A caçada: quando o coração é um caçador solitário.
A Mulher-esqueleto: encarando a natureza de vida-morte-vida do amor


"Para que se crie um amor duradouro, a Mulher-Esqueleto precisa ser aceita no relacionamento e abraçada pelos dois amantes. Aqui, nesta antiga história do povo inuit, estão os estágios psíquicos para o domínio desse abraço."

"Ela havia feito alguma coisa que seu pai não aprovava, embora ninguém mais se lembrasse do que havia sido. Seu pai, no entanto, a havia arrastado até os penhascos, atirando-a ao mar. Lá, os peixes devoraram sua carne e arrancaram seus olhos. Enquanto jazia no fundo do mar, seu esqueleto rolou muitas vezes com as correntes.

Um dia um pescador veio pescar. Bem, na verdade, em outros tempos muitos costumavam vir a essa baía pescar. Esse pescador, porém, estava afastado da sua colônia e não sabia que os pescadores da região não trabalhavam ali sob a alegação de que a enseada era mal-assombrada.

O anzol do pescador foi descendo pela água abaixo e se prendeu - logo em que! - nos ossos das costelas da Mulher-esqueleto. O pescador pensou: “Oba, agora peguei um grande de verdade! Agora peguei um mesmo!” Na sua imaginação, ele já via quantas pessoas esse peixe enorme iria alimentar, quanto tempo sua carne duraria, quanto tempo ele se veria livre da obrigação de pescar. E enquanto ele lutava com esse enorme peso na ponta do anzol, o mar se encapelou com uma espuma agitada, e o caiaque empinava e sacudia porque aquela que estava lá em baixo lutava para se soltar. E quanto mais ela lutava, tanto mais ela se enredava na linha. Não importa o que fizesse, ela estava sendo inexoravelmente arrastada para a superfície, puxada pelos ossos das próprias costelas.

O pescador havia se voltado para recolher a rede e, por isso, não viu a cabeça calva surgir acima das ondas; não viu os pequenos corais que brilhavam nas órbitas do crânio; não viu os crustáceos nos velhos dentes de marfim. Quando ele se voltou com a rede nas mãos, o esqueleto inteiro, no estado em que estava, já havia chegado a superfície e caia suspenso da extremidade do caiaque pelos dentes incisivos. - Agh! - gritou o homem, e seu coração afundou até os joelhos, seus olhos se esconderam apavorados no fundo da cabeça e suas orelhas arderam num vermelho forte.

- Agh! - berrou ele, soltando-a da proa com o remo e começando a remar loucamente na direção
da terra. Sem perceber que ela estava emaranhada na sua linha, ele ficou ainda mais assustado pois ela parecia estar em pé, a persegui-lo o tempo todo até a praia.Não importava de que jeito ele desviasse o caiaque, ela continuava ali atrás.Sua respiração formava nuvens de vapor sobre a água, e seus braços se agitavam como se quisessem agarrá-lo para levá-lo para as profundezas.


- Aaagggggghhhh! - uivava ele, quando o caiaque encalhou na praia. De um salto ele estava fora da embarcação e saia correndo agarrado a vara de pescar.E o cadáver branco da Mulher-esqueleto, ainda preso a linha de pescar, vinha aos solavancos bem atrás dele. Ele correu pelas pedras, e ela o acompanhou.Ele atravessou a tundra gelada, e ela não se distanciou. Ele passou por cima da carne que havia deixado a secar, rachando-a em pedaços com as passadas dos seus mukluks.

O tempo todo ela continuou atrás dele, na verdade até pegou um pedaço do peixe congelado enquanto era arrastada. E logo começou a comer, porque há muito, muito tempo não se saciava. Finalmente, o homem chegou ao seu iglu, enfiou se direto no túnel e, de quatro, engatinhou de qualquer jeito para dentro. Ofegante e soluçante, ele ficou ali deitado no escuro, com o coração parecendo um tambor, um tambor enorme. Afinal, estava seguro, ah, tão seguro, é, seguro, graças aos deuses, Raven, é, graças a Raven, é, e também a todo-generosa Sedna, em segurança, afinal.

Imaginem quando ele acendeu sua lamparina de óleo de baleia, ali estava ela - aquilo - jogada num monte no chão de neve, com um calcanhar sobre um ombro,um joelho preso nas costelas, um pé por cima do cotovelo. Mais tarde ele não saberia dizer o que realmente aconteceu. Talvez a luz tivesse suavizado suas feições; talvez fosse o fato de ele ser um homem solitário. Mas sua respiração ganhou um que de delicadeza, bem devagar ele estendeu as mãos encardidas e, falando baixinho como a mãe fala com o filho, começou a soltá-la da linha de pescar.


- Oh, na, na, na. - Ele primeiro soltou os dedos dos pés, depois os tornozelos.- Oh, na, na, na. - Trabalhou sem parar noite adentro, até cobri-la de peles para aquecê-la, já que os ossos da Mulher-esqueleto eram iguaizinhos aos de um ser humano.


Ele procurou sua pederneira na bainha de couro e usou um pouco do próprio cabelo para acender mais um foguinho. Ficou olhando para ela de vez em quando enquanto passava óleo na preciosa madeira da sua vara de pescar e enrolava novamente sua linha de seda. E ela, no meio das peles, não pronunciava palavra - não tinha coragem - para que o caçador não a levasse lá para fora e a jogasse lá em baixo nas pedras, quebrando totalmente seus ossos.

O homem começou a sentir sono, enfiou-se nas peles de dormir e logo estava sonhando.Às vezes, quando os seres humanos dormem, acontece de uma lágrima escapar do olho de quem sonha. Nunca sabemos que tipo de sonho provoca isso, mas sabemos que ou é um sonho de tristeza ou de anseio. E foi isso o que aconteceu com o homem.

A Mulher-esqueleto viu o brilho da lágrima a luz do fogo, e de repente ela sentiu uma sede daquelas. Ela se aproximou do homem que dormia, rangendo e retinindo,e pôs a boca junto a lágrima. Aquela única lágrima foi como um rio, que ela bebeu,bebeu e bebeu até saciar sua sede de tantos anos.Enquanto estava deitada ao seu lado, ela estendeu a mão para dentro do homem que dormia e retirou seu coração, aquele tambor forte. Sentou-se e começou a batucar dos dois lados do coração: Bom, Bomm!... Bom, Bomm!

Enquanto marcava o ritmo, ela começou a cantar em voz alta.

- Carne, carne, carne! Carne, carne, carne!- E quanto mais cantava, mais seu corpo se revestia de carne.Ela cantou para ter cabelo, olhos saudáveis e mãos boas e gordas. Ela cantou para ter a divisão entre as pernas e seios compridos o suficiente para se enrolarem e dar calor, e todas as coisas de que as mulheres precisam.

Quando estava pronta, ela também cantou para despir o homem que dormia e se enfiou na cama com ele, a pele de um tocando a do outro. Ela devolveu o grande tambor, o coração, ao corpo dele, e foi assim que acordaram, abraçados um ao outro,enredados da noite juntos, agora de outro jeito, de um jeito bom e duradouro.

As pessoas que não conseguem se lembrar de como aconteceu sua primeira desgraça dizem que ela e o pescador foram embora e sempre foram bem alimentados pelas criaturas que ela conheceu na sua vida debaixo d'água.As pessoas garantem que é verdade e que é só isso o que sabem."

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"Essa história é uma imagem adequada para o problema do amor moderno, o medo da natureza da vida-morte-vida, em especial do aspecto morte. Em geral grande parte da cultura ocidental, o personagem original da natureza da morte foi encoberto por vários dogmas e doutrinas até o ponto em que se separou de vez da sua outra metade, a vida. Fomos ensinados, equivocadamente, a aceitar a forma mutilada de um dos aspectos mais básicos e profundos da natureza selvagem. Aprendemos que a morte é sempre acompanhada de mais morte. Isso simplesmente não é verdade. A morte está sempre no processo de incubar uma vida nova, mesmo quando nossa existência foi retalhada até os ossos.

Em vez de considerar os arquétipos da morte e da vida como opostos, devemos encará-los juntos como o lado esquerdo e direito de um único pensamento. É fato que dentro de um único relacionamento amoroso existem muitos finais. Mesmo assim, de algum modo e em algum ponto na delicadas camadas do ser criado quando duas pessoas se amam, existe um coração e um alento. Enquanto um coração esvazia, o outro enche. Quando uma respiração termina, outra se inicia."

As primeiras fases do amor

A descoberta acidental do tesouro

"...creio que essa história tem seu valor quando é compreendida como uma série de sete tarefas que ensinam uma alma a amar outra profundamente. São elas a descoberta da outra pessoa como uma espécie de tesouro espiritual, muito embora a princípio não se perceba exatamente o que foi encontrado. Em seguida, na maioria dos relacionamentos, vem a caça e a tentativa de ocultação, um tempo de esperanças e receios para os dois lados. Depois, vem a tarefa de desenredar e compreender os aspectos da vida-morte-vida do relacionamento e a compaixão dessa tarefa. Segue-se a confiança que gera o relaxamento, a capacidade de descansar na presença do outro e da sua boa vontade, acompanhada de um período de compartilhamento dos sonhos futuros bem como de tristezas passadas, sendo esse o início da cura de ferimentos arcaicos relacionados ao amor. Finalmente, o uso do coração para fazer brotar uma nova vida e a fusão do corpo e da alma."

"Repetidas vezes observo um fenômeno em amantes, independente do sexo. Seria mais ou menos assim: duas pessoas começam uma dança para ver se elas vão querer se amar. De repente, a Mulher-esqueleto é fisgada por acaso. Algo no relacionamento começa a diminuir e cai em entropia. Com frequência, o doloroso prazer da excitação sexual se abranda, um passa a perceber o lado frágil e ferido do outro, ou ainda um deixa de ver o outro como 'material digno de admiração', e é aí que a velha careca e de dentes amarelos vem à tona."


A perseguição e a tentiva de se ocultar

"A fase de correr e de se esconder é o período no qual os amantes tentam racionalizar seu medo dos ciclos de amor da vida-morte-vida. Eles dizem 'Posso me dar melhor com outra pessoa', 'Não quero renunciar a meu (preencha a lacuna) _____', 'Não quero mudar a minha vida', 'Não quero encarar minhas feridas, nem as de ninguém mais', 'Ainda não estou pronto' ou ainda 'Não quero ser transformado sem primeiro saber nos ínfimos detalhes como vou ficar/me sentir depois.'

É uma fase em que os pensamentos ficam todos confusos, quando se quer procurar um abrigo a todo custo e quando o coração bate, não tanto por amar ou por se sentir amado, quanto por um terror humilhante. Ser encurralado pela Morte! O horror de enfrentar a força da vida-morte-vida pessoalmente! Ai, ai!"

"Pois nesse ponto A Morte persegue o homem pelas águas, cruzando a fronteira entre o inconsciente e a terra firme da mente consciente. A psique consciente percebe o que fisgou e tenta desesperadamente correr mais do que a presa. Constantemente agimos assim nas nossas vidas. Algo de apavorante mostra sua cara. Nós não estamos prestando atenção e continuamos a puxar a linha, imaginando se tratar de uma boa pesca. É um achado, mas não do tipo que estávamos imaginando. É um tesouro que infelizmente aprendemos a temer. Por isso, tentamos fugir ou jogá-lo de volta; tentamos embelezá-lo ou torná-lo o que não é. Isso, porém, nunca funciona. No final todos temos de beijar a megera."


Desembaraçando o esqueleto

"O pescador demonstra sua boa intenção, sua força e seu envolvimento crescente com a Mulher-esqueleto ao desemaranhá-la. Ele olha para ela toda dobrada para um lado e para outro e vê nela um vislumbre de algo, ele nem sabe de quê. Ele havia fugido dela, ofegante e soluçante. Agora ele cogita tocar nela. Só por existir, ela de algum modo está tocando o coração do pescador. Quando compreendermos a solidão da natureza da vida-morte-vida, que é constantemente rejeitada, embora não por culpa sua... então talvez possamos nos sentir tocados pelo seu sofrimento.

Se for ao amor que estivermos nos dedicando, muito embora nos sintamos apreensivos ou assustados, estaremos dispostos a desembaraçar a linha dos ossos da natureza da morte. Estaremos dispostos a tocar o não-tão-belo no outro e em nós mesmos."

"Desemaranhar a Mulher-esqueleto é começar a quebrar o encanto -ou seja, o medo de sermos consumidos, de morrermos para sempre. Em termos arquetípicos, desemaranhar algo é empreender uma descida, seguir por um labirinto, penetrar no mundo subterrâneo ou no lugar em que as coisas são reveladas de uma forma inteiramente nova, ser capaz de acompanhar um processo complexo. Nos contos de fadas, soltar a faixa, desfazer o nó, desemaranhar e desenredar representam começar a entender algo, a entender suas aplicações e usos, a se tornar um mago, uma alma sábia."


O sono da confiança

"Nesse estágio do relacionamento, o amante volta ao estado de inocência, estado no qual ele ainda se amedronta com os elementos emocionais, no qual ele está cheio de desejos, esperanças e sonhos. A inocência é diferente da ingenuidade. No interior existe um ditado: 'A ignorância é não saber nada e ser atraído pelo bem. A inocência é saber tudo e ainda assim ser atraído pelo bem'.

Vejamos até onde chegamos. O pescador-caçador trouxe a natureza da vida-morte-vida para a superfície. Contra sua própria vontade, ele foi 'perseguido' por ela; mas ele também conseguiu encará-la. Sentiu pena do seu estado emaranhado e a tocou. Tudo isso o leva a uma participação plena. Tudo isso o leva a uma transformação, ao amor.

Embora a imagem do sono possa indicar o inconsciente, nesse caso ele simboliza a criação e a renovação. O sono é o símbolo do renascimento. Nos mitos da criação, as almas adormecem enquanto se realiza uma transformação de uma duração determinada, pois no sono nós nos recriamos, nos renovamos."

"Existe uma prudência que é verdadeira, quando o perigo está por perto, e uma prudência que não tem justificativa e que se origina de algum ferimento anterior. Esta última faz com que os homens ajam de modo irritadiço e desinteressado mesmo quando eles sentem que gostariam de demonstrar carinho e afeto. As pessoas têm medo de 'ser ludibriadas' ou de 'entrar num beco sem saída' - ou que não param de voiciferar seus direito de querer 'ser livre' - são as que deixam o ouro escapar por entre os dedos."

"Às vezes não existem palavras que estimulem a coragem. Às vezes é preciso simplesmente mergulhar. Tem de haver em algum ponto da vida de um homem um período em que ele confie na direção que o amor o levar, em que ele tenha mais medo de ficar confinado a algum leito rachado do rio seco da psique do que de estar solto num território exuberante porém inexplorado. Quando uma vida é excessivamente controlada, cada vez há menos vida a controlar.

Nesse estágio de inocência, o pescador volta a ser uma alma criança, pois no seu sono ele está ileso e não existe a recordação do que aconteceu ontem ou antes. No seu sono, ele não está lutando para assumir algum lugar ou posição. No sono, ele se renova."

"A única confiança necessária é a de saber que, quando ocorre um final, vai surgir um novo começo."

As fases posteriores do amor

O coração como tambor e o canto para criar a vida

"
Quando a Mulher-esqueleto se vale do coração do pescador, ela está usando o centro motor da psique interna, o único órgão de real importância, o único capaz de gerar sentimento puro e inocente. Diz-se que é a mente que pensa e cria. Essa história afirma o contrário, que é o coração que pensa e convoca as moléculas, átomos, sentimentos, anseios e o que mais seja necessário, até o único lugar a fim de gerar a matéria que realize a criação da Mulher-esqueleto.

A história contém uma promessa: permita que a Mulher-esqueleto se torne mais palpável na sua vida, e ela em troca engrandecerá sua vida. Quando a libertamos como mestra e amante, ela passa a ser uma aliada e uma parceira."

"Quando um homem entrega seu coração por inteiro, ele se torna uma força espantosa - ele se torna uma inspiração, papel que no passado era reservado apenas às mulheres. Quando a Mulher-esqueleto dorme com ele, ele se torna fértil. Ele é investido com poderes femininos num meio masculino. Ele passa a levar as sementes da nova vida e das mortes necessárias. Ele inspira novos trabalhos a si mesmo, mas também àqueles que estão por perto."


A dança do corpo e da alma
"Às vezes aquele que está fugindo da natureza da vida-morte-vida insiste em pensar que o amor é apenas uma dádiva. No entanto, o amor em sua plenitude é uma série de mortes e de renascimentos. Deixamos uma fase, um aspecto do amor, e entramos em outra. A paixão morre e volta. A dor é espantada para longe e vem à tona mais adiante. Amar significa abraçar e ao mesmo tempo suportar inúmeros finais e inúmeros recomeços - todos no mesmo relacuionamento."

"Para fazer amor, se queremos amar, bailamos con La Muerte, dançamos com a Morte. Haverá enchentes, haverá secas; haverá recém-nascidos, natimortos e ainda renascimento de algo novo. Amar é aprender os passos. Fazer amor é dançar a dança."

"Nessa história há duas transformações, a do caçador e a da Mulher-esqueleto. Em termos modernos, a transformação do caçador sera mais ou menos como o que se segue. A princípio, ele é o caçador inconsciente. 'Oi, sou só eu. Estou pensando e cuidando da minha vida.' Depois ele passa a ser o caçador assustado, em fuga. 'O quê? Você me quer? Bem, acho que está na hora de eu ir andando.' Mais tarde, ele reconsidera, começa a desenredar seus sentimentos e descobre um meio de se relacionar com ela. 'Parece que a minha alma é atraída por você. Quem é você, no fundo? Qual é a sua estrutura?'

Em seguida, ele adormece. 'Vou confiar em você. Vou me permitir expôr minha inocência.' Com isso, sua lágrima de sentimento profundo é revelada e alimenta a Mulher-esqueleto. 'Esperei muito tempo por você.' Seu coração é emprestado para criá-la por inteiro. 'Pronto, tome meu coração e conquiste a vida na minha vida.' E assim o caçador-pescador é recompensado com o amor. Essa é a trsnformação típica de uma pessoa que aprende a amar."

"Deduzimos da história que a doação do corpo é uma das últimas fases do amor. É assim que deve ser. É bom dominar os primeiros estágios do encontro com a natureza da vida-morte-vida e deixar para depois as experiências práticas do corpo-a-corpo. Advirto as mulheres para que não aceitem um amante que salte de uma fisgada acidental para a doação do corpo. Insistam no cumprimento de todas as fases. Assim, a última fase virá por si só. A ocasião para a união dos corpos chegará na hora certa."

( Trecho de "Mulheres que correm com os Lobos - Clarissa Pinkola Estes)

2 de outubro de 2014

"Reclamar e reagir são as formas preferidas da mente para fortalecer o ego"
Eckhart Tolle
 
"Talvez o nosso verdadeiro destino seja o de estar eternamente em caminho, sem parar de lastimar e desejando com nostalgia, sempre ávidos de repouso e sempre errantes. Só é sagrada de fato a estrada da qual não se conhece o fim e que entretanto a gente se obstina a seguir. assim é nossa caminhada neste momento através da obscuridade e dos perigos sem saber o que nos espera"
S. Zweig


"Não me ajeito com os padres, os críticos e os canudinhos de refresco: 
não há nada que substitua o sabor da comunicação direta." 
Mário Quintana

Na luz, a escuridão simplesmente desaparece.

Aprender "ser" e estar com o "outro"...
Aprender "EXISTIR" no agora...
e ainda sonhar o bem futuro...
Nada a fazer, além de viver, entregar,
 amar...

Do filme: Closer


Dan: - Se você a ama, vai deixá-la ir... e ser feliz.

Larry:- Ela não quer ser feliz.

Dan: - Todos querem.

Larry: - Depressivos não. Eles querem ser infelizes para legitimar a depressão. E felizes, adeus depressão. Teriam de se abrir, o que é deprimente."


25 de setembro de 2014

'Quando comentei a aparência sinistra das montanhas, 
Clara retrucou que elas pareciamtão ameaçadoras porque sua 
essência etérica era milenar. Contou-me que tudo nas esferas 
visíveis e invisíveis possui uma essência etérica, e deve -se estar 
receptivo a esta essência para saber como proceder.
O que ela disse fez-me lembrar da tática de olhar para o horizonte 
ao sul a fim de obter insights e orientação."
Taisha Abelar

10 de setembro de 2014


“Quando a terra se converte num altar,
a vida se transforma numa reza”.
(Mia Couto)



"Eu somos tristes. Não me engano, digo bem. Ou talvez: nós sou triste? Porque dentro de mim não sou sozinho. Sou muitos. E esses todos disputam minha única vida. Vamos tendo nossas mortes. Mas parto foi só um. Aí, o problema. Por isso, quando conto a minha história me misturo, mulato não de raças, mas de existências"
Mia Couto!

1 de setembro de 2014

direção


“Um dos princípios fundamentais que levei muito tempo para reconhecer e que ainda continuo a aprofundar é a descoberta de que, quando sinto que uma atividade é boa e que vale a pena prossegui-la, devo prossegui-la. Em outras palavras, aprendi que a minha apreciação “organísmica” total de uma situação é mais digna de confiança do que o meu intelecto. Durante toda a minha vida profissional fui levado a seguir direções que pareciam ridículas aos outros e sobre as quais eu mesmo tinha muitas dúvidas. Mas nunca lamentei seguir as direções que eu “sentia serem boas”, mesmo se freqüentemente experimentasse por algum tempo uma sensação de isolamento ou de ridículo” (Carl Rogers)

25 de agosto de 2014

29 de junho de 2014

A Apanhadora de Sonhos

           Os Ventos dos Quatro Cantos do Mundo, sopravam em seus ouvidos os sonhos      das criaturas da terra. Ela passou a recolher-lhes os sonhos todas as manhãs, ainda antes do inicio dos tempos, quando se apercebeu do fato deles andarem soltos pelo dia...Sonhos perdidos...Os que mais lhe comoviam eram os sonhos das crianças – sonhos de criança são cintilantes e coloridos..., de cores que não tem nomes, cheios de sentido e poder...São sonhos tão grandes que mal cabem nos seus pequenos corpos...e quando são sonhos ruins, as possuem de tal forma que elas perdem a noção de sonhar e acordar... Já os sonhos dos adultos, são sonhos podados, com no máximo algumas cores, às vezes preto e branco...Pessoas adultas sonham com o possível, sonham com coisas que gostariam de fazer, sonham com coisas que acreditam que tem por fazer...Mas nunca com o inusitado, inominado, imaginado, inventado...Por isso Ela recolhe os sonhos que em seu ventre se transformam em borboletas, vaga-lumes, grilos, vespas...Depende..De que cor são seus sonhos°?
Gislaine Carvalho Rodrigues

27 de junho de 2014

Os quatro estágios do perdão


1. Deixar passar - deixar a questão em paz
2. Controlar-se —renunciar à punição
3. Esquecer — afastar da memória, recusar-se a repisar
4. Perdoar —o abandono da dívida
 

DEIXAR PASSAR
Para se começar a perdoar, é bom deixar passar algum tempo. Ou seja, é bom
deixar de pensar provisoriamente na pessoa ou no acontecimento. Não se trata de deixar algo por fazer, mas assemelha-se a tirar umas férias do assunto. Isso ajuda a evitar que fiquemos exaustas, permite que nos fortaleçamos por outros meios, que tenhamos outras alegrias na vida.
Esse estágio é um bom treino para o abandono definitivo que mais adiante
advirá do perdão.
Deixe a situação, a recordação, o assunto, tantas vezes quantas for
necessário. A idéia não é a de fechar os olhos, mas a de adquirir agilidade e força para se desligar da questão. Deixar passar envolve voltar a tecer, a escrever, ir até o mar, aprender e amar algo que a fortaleça e deixar que o tema saia do primeiro plano por um tempo. Isso é bom e é medicinal. As questões de danos passados irão atormentar a mulher muito menos se ela garantir à psique ferida que lhe aplicará bálsamos medicinais agora e que mais tarde tratará do assunto de quem provocou tal ferida.
 

CONTROLAR - SE
A segunda fase é a do controle, especificamente no sentido de abster-se de
punir; de não pensar no fato nem reagir a ele seja em termos grandes, seja em termos pequenos. É de extrema utilidade a prática desse tipo de refreamento, pois ele aglutina a questão num único ponto, em vez de permitir que ela se espalhe por toda a parte. Essa atitude concentra a atenção para a hora em que a pessoa se dirigir aos próximos passos. Ela não quer dizer que a pessoa deva ficar cega, entorpecida ou que perca sua vigilância protetora. Ela pretende conferir um prazo à situação para ver como isso ajuda.
Controlar -se significa ter paciência, resistir, canalizar a emoção. Esses são
medicamentos poderosos. Faça tanto quanto puder. Esse é um regime de purificação.
Você não precisa fazer tudo; você pode escolher um aspecto, como o da  paciência, e praticá - lo. Você pode se abster de palavras, de resmungos punitivos, de agir de modo  hostil, ressentido. Ao evitar punições desnecessárias, você estará reforçando a integridade da alma e da ação. Controlar - se é praticar a generosidade, permitindo, assim, que a grande natureza compassiva participe de questões que anteriormente geravam emoções que iam desde a ínfima irritação até a fúria.
 

ESQUECER
Esquecer significa afastar da lembrança, recusar -se a repisar um assunto — em
outras palavras, deixar de lado, soltar, especialmente da memória. Esquecer não quer dizer entorpecer o cérebro. O esquecimento consciente consiste em deixar de lado o acontecimento, não insistir para que ele permaneça no primeiro plano, mas permitir que ele seja relegado ao plano de fundo ou mesmo que saia do palco. Praticamos o esquecimento consciente quando nos recusamos a invocar o
material  inflamável, quando nos recusamos a mergulhar em recordações. Esquecer é uma atividade, não uma atitude passiva. Significa não trazer certos materiais até a superfície, nem revirá - los constantemente, nem se irritar com pensamentos, imagens ou emoções repetitivas. O esquecimento consciente significa a determinação de abandonar a prática obsessiva, de ultrapassar a situação e perdê - la de vista, sem olhar para trás, vivendo, portanto, numa nova paisagem, criando vida e experiências novas em que pensar no lugar das antigas. Esse tipo de esquecimento não apaga a memória; ele simplesmente enterra as emoções que cercavam a memória.
 

PERDOAR
Existem muitos meios e proporções com os quais se perdoa uma pessoa, uma
comunidade, uma nação por uma ofensa. É importante lembrar que um perdão
"final" não é uma capitulação. É uma decisão consciente de deixar de abrigar
ressentimento, o que inclui o perdão da ofensa e a desistência da determinação de retaliar. É você quem decide quando perdoar e o ritual a ser usado para assinalar esse evento. É você quem resolve qual é a dívida que você agora afirma não precisar mais ser paga.
Algumas pessoas optam pelo perdão total: liberando a pessoa de qualquer tipo
de reparação para sempre. Outras preferem interromper a reparação no me
io, abandonando a dívida, alegando que o que está feito está feito e que a compensação já é suficiente. Outro tipo de perdão consiste em isentar a pessoa sem que ela tenha feito qualquer reparação emocional ou de outra natureza.
Para certas pessoas, finalizar o perdão significa considerar o outro com
indulgência, e isso é mais fácil quando as ofensas são relativamente leves. Uma das formas mais profundas de perdão está em dar ajuda compassiva ao ofensor por um ou outro meio. 

Isso não quer dizer que você deva enfiar a cabeça no ninho da cobra,
mas, sim, ser sensível a partir de uma postura de compaixão, segurança e preparo.
O perdão é onde vão culminar toda a abstenção, o controle e o esquecimento.
Não significa abdicar da própria proteção, mas da própria
frieza. Uma forma profunda de perdão consiste em deixar de excluir o outro, o que significa deixar de mantê -lo à distância, de ignorá -lo, de agir com frieza, condescendência e falsidade. É melhor para a psique da alma restringir ao máximo o tempo de exposição às pessoas que são difíceis para você do que agir como um robô insensível.
O perdão é um ato de criação. Você pode escolher entre muitas formas de
proceder. Você pode perdoar por enquanto, perdoar até que, perdoar até a próxima vez, perdoar mas não dar outra chance — começa tudo de novo se acontecer outro incidente. Você pode dar só mais uma chance, dar mais algumas chances, dar muitas chances, dar chances só se... Você pode perdoar uma ofensa em parte, pela metade ou totalmente. Você pode imaginar um
perdão abrangente. Você decide.
Como a mulher sabe que perdoou? Você passa a sentir tristeza a respeito da
circunstância, em vez de raiva. Você passa a sentir pena da pessoa em vez de
irritação. Você passa a não se lembrar de mais nada a dizer a respeito
daquilo tudo.
Você compreende o sofrimento que provocou a ofensa. Você prefere se manter fora daquele meio. Você não espera por nada. Você não quer nada. Não há no seu tornozelo nenhuma armadilha de laço que se estende desde lá longe até aqui. Você está livre para ir e vir. Pode ser que tudo não tenha acabado em “viveram felizes para sempre”, mas sem a menor dúvida existe de hoje em diante um novo "Era uma vez" à sua espera.

Clarissa Pinkola Estes

15 de maio de 2014

amor...

A única pessoa com quem estarei para sempre sou eu.
A minha relação comigo mesma é eterna, por isso, 
escolhi ser minha melhor amiga.
Eu escolho amar e aceitar-me e falar comigo mesma 
como eu faria a uma pessoa amada na minha vida. 
Eu saturo todas as células do meu corpo com amor e 
elas se tornam vibrantemente saudáveis. 
Eu me relaciono com amor com toda a vida. ~ Louise Hay

2 de maio de 2014

Uma história de Coyote

Esta é uma história antiga, é uma "história Coyote ", que conta como o Coyote tem o seu nome e o seu poder especial .

“No início do mundo , o Grande Espírito convocou uma reunião de conselho com todos os animais . Ele disse : "Alguns de vocês não têm nomes ainda, e alguns de vocês não gostam dos nomes que tem agora. Então, amanhã , antes do sol nascer , eu vou dar um nome a todos e eu também darei a cada ser  um poder especial ".

Isso causou um grande alvoroço, mas o Grande Criador continuou: " Venham para o minha moradia, assim que a escuridão se for.  Aquele que chegar primeiro pode escolher qualquer nome que quiser. E eu vou dar-lhes uma flecha, como símbolo do poder, e seu tamanho vai dizer quem tem mais poder . "

Toda a gente estava saindo da reunião, Coyote virou-se e disse a seu amigo, Raposa: "Eu não gosto do meu nome, então quero ter certeza de que estarei lá primeiro... Eu acho que eu gostaria de ser chamado Urso Grizzly ou Águia . "

  A raposa apenas riu e riu. "Ninguém quer o seu nome . Eu acho que você provavelmente vai ter que mantê-lo ".
"Não!" disse Coyote . "Eu vou provar isso para você . Basta esperar e ver. Estarei lá em primeiro lugar. Nem vou dormir esta noite só para ter certeza . "

Naquela noite, ele se sentou ao fogo e ficou acordado por um longo tempo. A coruja piou para ele , fazendo-o sentir-se nervoso . Sapo resmungou nos pântanos e cantou músicas que fizeram Coyote sonolento. Coyote ouviu todos os animais , mesmo os grilos . Ele continuou olhando para o céu , e em breve até mesmo as estrelas começaram a desaparecer lentamente , fazendo com que suas pálpebras ficassem mais e mais pesadas . Ele tornou-se muito sonolento.

De repente, ele se levantou e disse: " Eu tenho que fazer algo sobre isso " Então, olhou em volta, encontrou duas varas, e apoiou -as sob as pálpebras . " Agora eu posso ficar acordado ", disse ele a si mesmo.

Mas logo ele estava dormindo . Quando finalmente acordou, o Sol já estava passando sobre as montanhas, e os olhos de Coyote estavam secos de ter sido apoiados durante toda a noite . E com seus olhos doloridos, ele mal podia ver , mas correu o mais rápido que podia para a moradia do Grande Criador, mas ela estava vazia, apenas o Grande Criador lá se encontrava.

"Eu quero ser Urso Grizzly ", ele gritou , pensando que era o primeiro a chegar. O Grande Criador respondeu : " Esse nome já foi tomado, e Urso Grizzly tem a flecha maior, ele será chefe e xamã de todos os animais da Terra."

" Então eu vou ser Águia ", disse Coyote com firmeza. " Esse nome também foi levado ", disse o Grande Criador . " E Águia tem a segunda mais longa flecha. "

Coyote ficou frustrado e preocupado. " Então eu vou ser Salmão ", exclamou ele , com tristeza. " Esse nome também foi levado , e salmão tem a terceira flecha ", disse o Grande Criador . "Então ele será o chefe de todo o povo peixe. Apenas a flecha menor foi deixada, e tem apenas um nome. Aqui... "tome isso", disse o Grande Criador .

Coyote se desesperou. Seus olhos ainda estavam doloridos e secos, ele não conseguia nem chorar. Assim, o Grande Criador colocou água neles, e disse: "Coyote lamento por sua situação."

"Eu sei ", disse ele , pulando para cima . "Vou pedir Urso Grizzly para trocar de nome comigo. " E lá foi ele . "Não, não , não", disse Urso Grizzly. "Eu não posso fazer isso por você , porque o Grande Criador  me deu este nome sagrado".

Coyote voltou para o fogo um pouco mais. "Então eu vou procurar Águia. Mas como eu posso voar? Eu sei! Vou procurar salmão . Mas como posso nadar? " Ele estava tão triste e revoltado , ele começou a chorar.

O Grande Criador ouviu e saiu de sua morada. Ele disse : "Não se sinta tão mal , Coyote, eu tenho um poder especial para você. Eu queria que você fosse o último a chegar , porque eu tenho um trabalho especial para você fazer , e você vai precisar de um poder especial e de habilidade para fazê-lo . Agora estude sua flecha, com ela você pode mudar a si mesmo em qualquer forma e quando você ou alguém precisar de uma ajuda especial , evoque o seu poder.

" E, por último , a raposa será o sua irmã e mensageira e irá ajudá-lo quando você precisar de apoio em seu trabalho. Se você morrer, ele terá o poder para trazê-lo de volta à vida . Agora vá para o mundo e leve seus ensinamentos"

É assim que a Coyote tem o seu nome e poder especial ; ele nos ensina sobre os poderes da natureza, seus comportamentos, ciclos e valores.

24 de abril de 2014

Uma Criatura


Sei de uma criatura antiga e formidável,
Que a si mesma devora os membros e as entranhas,
Com a sofreguidão da fome insaciável.
Habita juntamente os vales e as montanhas;
E no mar, que se rasga, à maneira do abismo,
Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.
Traz impresso na fronte o obscuro despotismo;
Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
Parece uma expansão de amor e egoísmo.
Friamente contempla o desespero e o gozo,
Gosta do colibri, como gosta do verme,
E cinge ao coração o belo e o monstruoso.
Para ela o chacal é, como a rola, inerme;
E caminha na terra imperturbável, como
Pelo vasto arealum vasto paquiderme.
Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo
Vem a folha, que lento e lento se desdobra,
Depois a flor, depois o suspirado pomo.
Pois essa criatura está em toda a obra:
Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto,
E é nesse destruir que as suas forças dobra.
Ama de igual amor o poluto e o impoluto;
Começa e recomeça uma perpétua lida;
E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a morte; eu direi que é a vida.
Machado de Assis

Bruma



Ele ouviu alguém dizer que, a bruma quando vinha assim baixinho..,
roçando a terra, era nuvem namorando a relva...
Seu pensamento flutuava manso, imaginando por onde teriam andando estas nuvens viajantes que agora umedeciam seu rosto...
Teriam brincado com as crianças, se disfarçando de urso, gigante, coelho, coração?
Se cobriram de rosa, enquanto caia o dia?
Sobrevoaram os telhados noturnos dos amantes?
Conspiraram com as corujas a luz da Lua?
Colheram o calor de uma estrela cadente?
Enquanto caminhava no frio da madrugada, levantavam-se no vento as danadas, descortinado a manhã ensolarada....
Gislaine Carvalho Rodrigues

17 de abril de 2014

ela...



Ela sonhava com uma linda baleia rosada..
E queria mudar o mundo...
Ela sonhava com os sons das mares...
E queria cantar o mundo...
Ela sonhava com mulheres livres e inteiras...
E queria conhecer o mundo...
Ela sonhava com magias e cores...
E queria pintar o mundo...
Ela sonhava com ipês amarelos...
E queria viver o mundo...
Ela sonhava com sereias encantadas...
E queria abençoar o mundo...
Ela sonhava com crianças e brinquedos..
E queria amar o mundo...

Gislaine Carvalho Rodrigues

Presente



Era noite de Natal e eu havia acabado de ganhar um presente...Era um lindo vestido grande demais para mim. Na semana seguinte fui a loja e o troquei por um vestido vermelho e de outras cores, de um tipo que me lembra roupa simples de chita, que eu amo, porque faz com que me sinta simples, simplesmente mulher.... , e me faz lembrar que a vida é simples, simplesmente um presente...
Eu acredito que se você não está recebendo seus presentes é porque está com o presente errado, no momento errado, no lugar errado, com a pessoa errada, no trabalho errado...
Mas meu vestido que-parece-chita, veio sim...pelas mão certas, da pessoa certa..., percorrendo o caminho que conseguiu percorrer...E assim são todas as coisas...
Estou certa de que o destino de tudo o que existe é a felicidade.
Só pode ser a felicidade – não é a dor, a expiação, a culpa, a infelicidade, o ódio, o sofrimento..., é a felicidade. Só a felicidade pode manifestar o bem. Não falo de um “estado de paraíso”, sem problemas ou dificuldades, falo de um estado de bem-aventurança, onde você sente que está fazendo a coisa certa, vivendo sua história, sabendo que ela te pertence, que é sua missão estar aqui e agora, apesar das dificuldades, a sensação de integração faz com que sinta que existe significado, e que a vida é um grande e intenso presente.
Gislaine Carvalho Rodrigues

10 de abril de 2014

mestres



Muitas vezes a gente tem uma visão limitada da vida...
O ego, através da mente estreita não consegue perceber todas as conexões que transcendem ao espaço/tempo...
Cada pedra no caminho é uma dor e um professor...Quem pode afirmar se a pedra em seu profundo amor não se ofertou em divina missão...Mas o ego, em sua estreita visão nos diz: é tão tolo aquele que se permite pisar, sem saber que somos pedra e pé; o vento que derruba a árvore e a árvore que cai; vida e morte; amor e dor; aprendizes e mestres...Sucedendo-se assim na Sagrada Jornada, Somos Um, em nossos infinitos papéis, eu sou você e você sou eu. Somos Amor.
Gislaine Carvalho Rodrigues

Aos meus inimigos...



Abençoado seja você, meu “inimigo”! Porque me faz crescer..., me revela sombras, medos, angustias e dores profundas e antigas. Abençoado seja, meu “inimigo”! Porque desperta em mim a guerreira adormecida. Levanta a poeira, me tira da “cadeira", me faz mais forte e melhor! Abençoado seja meu “inimigo”! Porque me cobra, desafia minha preguiça, me faz mais competente e eficiente. Abençoado seja meu “inimigo”! Porque através do contato com a sua injustiça, eu busco a justiça – não apenas para mim mas para todos. Abençoado seja você, meu “inimigo”! Porque me move à cuidar do meu Espaço Sagrado – físico, espiritual e emocional, de uma forma que jamais cuidaria nos tempos de paz. Por tudo isso sou grata e meu ser de luz, reverencia seu ser de luz! 
Namastê!

Gislaine Carvalho Rodrigues

coração



(...) Senti sua presença suave e cálida flutuando em cima de meu ombro direito e com sua voz doce e inconfundível, ela me disse: Coloque sal marinho em uma concha em seu altar na direção noroeste..., afasta o mal -- e continuou: "o coração feminino é delicado".
Gislaine Carvalho Rodrigues - 15/03/14

espelho


Se a gente não se ama, não há como amar o outro...O outro vai ser um objeto de uso para o nosso ego, ou para nossas necessidades...Se a gente não se ama -- já que o outro é ESPELHO, a gente vê no outro o reflexo do nosso desamor... , do nosso medo, das nossas amarras, das nossas inseguranças... Enfim...o amor enxerga o amor...
Gislaine Carvalho Rodrigues

transformação



Há momentos na vida em que você atravessa uma linha invisível que separa o que “você foi” do que o que “você gostaria de ser”.
Você trabalhou para chegar até aqui...Transformou padrões familiares, alimentares, instintuais, sociais, mentais...e finalmente seu mundo conhecido desabou!!!
Que assustadora e espantosa sensação de vazio!! Mas você ainda gostaria de voltar para o passado e se justificar àquelas pessoas a quem você ama, mas que se foram por algum motivo , quer mostrar a elas o seu ponto de vista, quer entender o porque da distância...Seu coração é amoroso...., mas não há como fazê-lo...., você “cruzou a linha”... , não digo que é uma “boa linha”..., não..., mas é a sua linha..., aquela que você trabalhou para atingir...E agora?
Agora a angustia que te envolve e faz você pensar no passado e desejar resgatar pessoas e situações tão amadas, é apenas medo da grande aventura de entrar na floresta seguindo um novo caminho... , repleto de venturas e desventuras..., como devem ser os caminhos...O passado não pode seguir em frente com você..., leões não pastam.
Leve na bagagem, tudo o que você aprendeu!
No coração todos com quem compartilhou amor, estando ou não neste novo caminho!!
Novas experiências a esperam, que pelo Grande Espírito, sejam carregadas de Significado, como o foram as que viveu até aqui!!
Gislaine Carvalho Rodrigues

expressão...



Há muitos anos atrás, participei de uma cerimonia de ayahuasca...Uma das questões que levei a trabalho foi um câncer de mama que havia se manifestado em minha mãe...Minha mãe foi uma mulher extremamente dura; guerreira, nunca acreditou que pudesse abrir mão de sua lança....Um exemplo de vida, se você estiver visualizando uma cultura vertical e meritocrática...No entanto ela tinha um enorme medo de amar e medo maior de demonstrar este amor..., como muita gente, ela tinha a crença que expressões emocionais são indícios de fraqueza... Durante a cerimonia, eu a vi me amamentando, mas de seu peito só saia leite..., não saia amor...e a Força me disse com imensa doçura: "jamais guarde amor em seu peito..." E através de muitas cenas, afagos e arabescos luminosos a Força me mostrou que era o amor e não o ódio guardado que mata...Você pode fazer alguma coisa com o ódio que você guarda, ele pode fazer você ter força regenerativa...Mas o amor guardado é como o câncer que não é nada e este nada vai crescendo e te deixando com um enorme vazio de ser.... A partir desta compreensão dei muito mais abraços....
Gislaine Carvalho Rodrigues

paz...


Deus manifesta sua poesia através de mim,
através de todos os seres...
Não se torture, não se atormente...
Encontre em seu silêncio a divindade refletida em sua paz...
Seja apenas a expressão deste ser divino dentro de você.

Nós somos a manisfestação material de Deus...o corpo de Deus e nele não há mal algum...Não é necessário se privar de nada, apenas observe o quanto nossos corpos muitas vezes se tornam escravos de nosso ego...
Seja apenas a expressão do Bem que existe dentro de você e a Paz não te abandonará...

Gislaine Carvalho Rodrigues

amar...



Amar é assim...
Você está no Caminho Sagrado...
Interagindo com o fluxo da vida que gera Beleza nas Quatro Direções...
Que gera Beleza no Céu e na Terra...
E então surge alguém que se alegra em caminhar lado a lado com você...
E vocês seguem na mesma direção, sentem o mesmo vento...
Gingam no Caminho no ritmo da mesma Canção...
E se o vento mudar para um dos dois e novos caminhos surgirem..., que seja!
O Caminho é fluido e os ventos que levam também trazem...
O Caminho é Eterno, é eterno o caminhar, o caminhante...
E a Beleza no seu olhar...


Gislaine Carvalho Rodrigues

....das cicatrizes


Clarissa Pinkola Estés, diz que "construímos" em "cima" das cicatrizes..., eu penso que a gente não cura tudo, mas que com o "olhar certo" podemos transformar o ferimento do passado um marco de superação...ou seja, "eu me lembro"... se falar do ocorrido ainda dói, mas estou consciente da fragilidade que me atraiu para a situação e das forças acessadas na superação, desta forma não existe mais uma ferida, existe uma cicatriz e Clarissa P. Estés sugere que a tratemos como uma marca de guerra, como a lembrança de nossa bravura.


Gislaine Carvalho Rodrigues

somos um...



As vezes você tem que se afastar de algumas pessoas, pois já não vibram na mesma sintonia ..., ocorre que as vezes - ainda, algumas destas pessoas não se conformam e então elas disfarçam o amor em ódio e a gente tem que encontrar dentro da gente um caminho para transformar ódio em amor...Porque se não os vínculos não se desfazem...Algumas pessoas nos querem tanto, que desejam ficar perto de qualquer jeito..., chamar a atenção de qualquer forma..., mesmo causando dor...Acho que foi por isso que Saint Exupery disse que "somos responsáveis pelo que cativamos"..., e eu acredito que a única forma de acabar com isso é vibrando compaixão. Afinal, somos um...
Gislaine Carvalho Rodrigues

Innocentia



Na medida que este ser se torna adulto e seu “adestramento” se completa, ele se esquece do maravilhoso milagre de radiante beleza que é, e vive o pesadelo de fazer, ao invés de ser..., de ter ao invés de viver...Sua Criança Interior está soterrada sob os escombros de uma cultura cujo combustível é a insatisfação e a automatização...A triste “realidade” imposta ao Ser humano diz que para ser adulto é preciso deixar de ser inocente...
Inocência: O termo inocência deriva do Latim, innocentia, “inocência; brandura;
mansidão; inteireza de costumes; virtude”, composto pelo prefixo in, “privação; negação”, e nocentia, “maldade; culpabilidade”. Ou seja, quando perdemos a inocência perdemos o nosso direito sagrado de sermos puros – sermos apenas o que nascemos para ser, e de conseqüentemente sermos “bons”..., visto que a bondade está intimamente ligada a felicidade....
Gislaine Carvalho Rodrigues

9 de abril de 2014

Era...



Era uma vez …

...uma azeitona que não sabia salgar,
uma pimenta que não sabia apimentar,
um Sol que não sabia raiar...
um peixe que não sabia nadar..
uma Lua que não sabia clarear...
um Zé que não sabia cantar...
Maria que não sabia dançar...
Dança, Maria..., dança...

Gislaine Carvalho Rodrigues

pré-juizo


É preciso que se tome muito cuidado com o julgamento...Porque um julgamento não é uma constatação de uma situação, o julgamento é uma interpretação de uma situação..., mas você só pode interpretar uma situação segundo seu próprio repertório... Seu julgamento é a expressão do que você é... Não dá para ser diferente!! Tudo que você pensa dos outros está dentro de você, é seu..., faz parte da sua dor...Entende que é apenas uma questão de lógica? Se nós brasileiros virmos pássaros negros girando no céu, automaticamente entenderemos que são urubus..., não pensaremos que são condores...Portanto, antes de criticar, julgar, ofender..., faça uma reflexão e veja se suas opiniões não estão simplesmente contaminadas por sua sombra.
A projeção de características sombrias é uma coisa extremamente comum em nossa sociedade e o primeiro passo para se "curar" de uma projeção é assumir a responsabilidade por cada julgamento, sensação ou interpretação. Este é um grande movimento de libertação..., experimente. 
Gislaine Carvalho Rodrigues

8 de abril de 2014

Existir na Amplidão




Viver com dignidade
Trabalhar com desprendimento
Amar com paixão.
Pensar com liberdade
Rezar com confiança
Estudar com humildade
Enxergar com comoção
Ouvir com sensibilidade
Falar com sinceridade
Enfrentar com coragem
Errar com aceitação
Divertir-se com regularidade
Se relacionar com amizade
Caminhar com determinação
Rir com vontade
Chorar com profundidade
Servir com boa vontade
Receber com gratidão
Expressar com facilidade
Existir na Amplidão.

Gislaine Carvalho Rodrigues

A Contadora de Histórias




Era o chegado o grande dia, o inverno já quase findara e Ila sabia que teria que subir a montanha, para em baixo da Árvore Sagrada, receber do Grande Espírito seu Sonho de Poder...
Ela estava com medo e só o toque quente da mão de sua avó a confortava, enquanto andavam pelo caminho na montanha. O manto branco do inverno cobria a terra, o vento frio arrancou as folhas da Árvore Sagrada e seus galhos apontavam o céu azul escuro do final da tarde...Ao se aproximarem da velha árvore, sua avó lhe entregou a bolsa de couro com água e uma manta e lhe disse: “Seja corajosa, Ila! Deixe que o vento leve seus pensamentos para que seu Sonho Sagrado possa se manifestar. Estarei esperando aos pés da montanha”
Ela recebeu o toque suave do abraço da avó, segurando o choro, que derramado seria indigno. 
Ila sabia que estava tudo bem...muitos haviam feito a passagem antes dela. Seu povo subia a montanha no final do inverno para receber seu Sonho Sagrado e para as meninas este dia chegava no ano do Sangue da Lua. Seu sangue tinha viera no verão e ela precisava tomar seu lugar junto ao seu povo. Mas o saber não é viver e conforme a noite descia sobre a terra, ela foi ficando mais agitada...Era melhor então recolher gravetos, fazer uma fogueira, ainda estava muito frio e o fogo afastaria os animais. A noite veio rápido, com ela o frio e o medo...
Enrolada na manta, encostada na Grande Árvore, Ila adormeceu. Na madrugada um ruído a acordou e ela percebeu um vulto negro – tão negro que se destacava na escuridão. Ele estava à alguns passos largos dela – 8 ou 10, e silenciosamente a observava. Apavorada, Ila não se mexia, apenas rezava para que o fogo não apagasse...e assim permaneceram...Ila e a fera, até que Pai Sol revelou a ela que a fera era um monte de pedras...
A raiva de si mesma por ter se atormentado tanto não era maior que a fome... A primavera ainda não havia derramado seu viço na terra e nada havia para comer, ela tomava água aos golinhos, para enganar o estômago. Cantou e mandou os pensamentos irem embora com o vento...e cantou de novo e recolheu lenha e observou a águia caçando, desejando ser forte como ela para também pegar um coelho...E voltou a cantar de novo, porque sabia que o jejum fazia parte da cerimônia para que o Grande Espírito a abençoasse com um Sonho Sagrado. 
E novamente o Pai Sol se deitou no horizonte e Ila prometeu a si mesma que nenhuma rocha a iria assustar esta noite. 
Com a fogueira acesa, enrolada em sua manta e protegida pelo Povo da Estrelas, Ila adormeceu. E na madrugada, novamente foi acordada por um ruido, e lá estava uma rocha novamente..., coração acelerado e impaciente consigo mesma, Ila se condenou por novamente se assustar, até que a “rocha” se mexeu sorrateiramente...os olhos recebendo o reflexo do fogo, faiscando na escuridão... O coração de Ila quase saiu pela boca...Ela se levantou em um salto e agarrou um galho que estava próximo, mas a fera avançou... Se revelando a luz da fogueira, um coiote lhe mostrava os dentes e inesperadamente avançou, alcançando sua bolsa de água e fugiu... Ela ainda tentou impedi-lo, mas ele desapareceu no escuro da noite...O choro que até agora lhe parecia tão indigno foi o único a lhe consolar do medo, da fome, do cansaço e da afronta do coiote ladrão que agora mascava sua bolsa de couro!
Quando mais uma vez os raios do Pai Sol banharam a terra, encontraram uma Ila exausta e revoltada. Pensava nos velhos costumes idiotas do seu povo, no quanto eram cruéis, seus pais e avós por obrigarem-na a passar por tudo isso. Agora, a fome se juntou a cede provocando dores insuportáveis em seu estômago. O dia passou, Ila só acendeu o fogo porque o medo era maior que o desânimo...Mas conforme a madrugada chegava seu desespero foi se transformando em entrega...Algo estava acontecendo e parecia que as estrelas estavam mais brilhantes naquela noite e ela se deitou para observar o céu. Encantada com tanta beleza, esqueceu a dor e a fome, e em meio a uma imensa luz dourada ela viu a Grande Mãe Terra na forma de uma coruja, estendendo suas asas ao redor da Árvore Sagrada, uma sensação de amor e aconchego a rodeava, fazendo com que se sentisse abençoada. E então vieram Antigos e formavam um grande círculo ao seu redor. Estavam todos ali, os Espíritos de seus Ancestrais, que com olhos e modos doces lhe contaram histórias de poder até que adormecesse.
O Pai Sol naquele dia encontrou Ila descendo a montanha. Chegando até a avó, esta fez com que sentasse em uma pedra e contasse sua visão. Ao termino do relato a avó abriu uma bolsa de onde tirou um pequeno pote com um pó amarelo e com ele fez três traços na testa de Ila, dizendo: Meu bem, você passara se chamar Coruja Dourada e a marca que de agora em diante trará na testa significa que você é uma Contadora de Histórias, seu sonho sagrado revela que você tem a missão de curar seu povo através de suas Histórias de Poder. 
“E como encontraram 
Tal qual encontrei 
Assim me contaram 
Assim vos contei.”

( Estórias para crianças de poucos e muitos anos - Gislaine Carvalho Rodrigues)

SOBRE DIREITOS AUTORAIS

As fotos, figuras, textos, frases visualizadas neste blog, são de autorias diversas. Em alguns casos não foram atribuidos os créditos devidos por ignorância a respeito de sua procedência. Se alguém tiver
alguma objeção ou observação por favor contatar-me.
Namastê























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