Era uma vez...


"Em um tempo muito, muito distante, quando a Deusa caminhava sobre a Terra e todas as coisas eram sagradas...
Nas noites encantadas,surgia em meio a floresta misteriosa
um velhinho exausto e tremulo e a Deusa em sua face Anciã,
o tomava em seus braços, se balançando em sua cadeira o embalava, cantando...cantando...
E pela manhã ele saltava de seus braços, agora já uma criança radiante e se alçava aos céus para raiar o dia.
Ele é a Criança Solar, Ela é a Mãe de todas as coisas..."

8 de abril de 2014

A Contadora de Histórias




Era o chegado o grande dia, o inverno já quase findara e Ila sabia que teria que subir a montanha, para em baixo da Árvore Sagrada, receber do Grande Espírito seu Sonho de Poder...
Ela estava com medo e só o toque quente da mão de sua avó a confortava, enquanto andavam pelo caminho na montanha. O manto branco do inverno cobria a terra, o vento frio arrancou as folhas da Árvore Sagrada e seus galhos apontavam o céu azul escuro do final da tarde...Ao se aproximarem da velha árvore, sua avó lhe entregou a bolsa de couro com água e uma manta e lhe disse: “Seja corajosa, Ila! Deixe que o vento leve seus pensamentos para que seu Sonho Sagrado possa se manifestar. Estarei esperando aos pés da montanha”
Ela recebeu o toque suave do abraço da avó, segurando o choro, que derramado seria indigno. 
Ila sabia que estava tudo bem...muitos haviam feito a passagem antes dela. Seu povo subia a montanha no final do inverno para receber seu Sonho Sagrado e para as meninas este dia chegava no ano do Sangue da Lua. Seu sangue tinha viera no verão e ela precisava tomar seu lugar junto ao seu povo. Mas o saber não é viver e conforme a noite descia sobre a terra, ela foi ficando mais agitada...Era melhor então recolher gravetos, fazer uma fogueira, ainda estava muito frio e o fogo afastaria os animais. A noite veio rápido, com ela o frio e o medo...
Enrolada na manta, encostada na Grande Árvore, Ila adormeceu. Na madrugada um ruído a acordou e ela percebeu um vulto negro – tão negro que se destacava na escuridão. Ele estava à alguns passos largos dela – 8 ou 10, e silenciosamente a observava. Apavorada, Ila não se mexia, apenas rezava para que o fogo não apagasse...e assim permaneceram...Ila e a fera, até que Pai Sol revelou a ela que a fera era um monte de pedras...
A raiva de si mesma por ter se atormentado tanto não era maior que a fome... A primavera ainda não havia derramado seu viço na terra e nada havia para comer, ela tomava água aos golinhos, para enganar o estômago. Cantou e mandou os pensamentos irem embora com o vento...e cantou de novo e recolheu lenha e observou a águia caçando, desejando ser forte como ela para também pegar um coelho...E voltou a cantar de novo, porque sabia que o jejum fazia parte da cerimônia para que o Grande Espírito a abençoasse com um Sonho Sagrado. 
E novamente o Pai Sol se deitou no horizonte e Ila prometeu a si mesma que nenhuma rocha a iria assustar esta noite. 
Com a fogueira acesa, enrolada em sua manta e protegida pelo Povo da Estrelas, Ila adormeceu. E na madrugada, novamente foi acordada por um ruido, e lá estava uma rocha novamente..., coração acelerado e impaciente consigo mesma, Ila se condenou por novamente se assustar, até que a “rocha” se mexeu sorrateiramente...os olhos recebendo o reflexo do fogo, faiscando na escuridão... O coração de Ila quase saiu pela boca...Ela se levantou em um salto e agarrou um galho que estava próximo, mas a fera avançou... Se revelando a luz da fogueira, um coiote lhe mostrava os dentes e inesperadamente avançou, alcançando sua bolsa de água e fugiu... Ela ainda tentou impedi-lo, mas ele desapareceu no escuro da noite...O choro que até agora lhe parecia tão indigno foi o único a lhe consolar do medo, da fome, do cansaço e da afronta do coiote ladrão que agora mascava sua bolsa de couro!
Quando mais uma vez os raios do Pai Sol banharam a terra, encontraram uma Ila exausta e revoltada. Pensava nos velhos costumes idiotas do seu povo, no quanto eram cruéis, seus pais e avós por obrigarem-na a passar por tudo isso. Agora, a fome se juntou a cede provocando dores insuportáveis em seu estômago. O dia passou, Ila só acendeu o fogo porque o medo era maior que o desânimo...Mas conforme a madrugada chegava seu desespero foi se transformando em entrega...Algo estava acontecendo e parecia que as estrelas estavam mais brilhantes naquela noite e ela se deitou para observar o céu. Encantada com tanta beleza, esqueceu a dor e a fome, e em meio a uma imensa luz dourada ela viu a Grande Mãe Terra na forma de uma coruja, estendendo suas asas ao redor da Árvore Sagrada, uma sensação de amor e aconchego a rodeava, fazendo com que se sentisse abençoada. E então vieram Antigos e formavam um grande círculo ao seu redor. Estavam todos ali, os Espíritos de seus Ancestrais, que com olhos e modos doces lhe contaram histórias de poder até que adormecesse.
O Pai Sol naquele dia encontrou Ila descendo a montanha. Chegando até a avó, esta fez com que sentasse em uma pedra e contasse sua visão. Ao termino do relato a avó abriu uma bolsa de onde tirou um pequeno pote com um pó amarelo e com ele fez três traços na testa de Ila, dizendo: Meu bem, você passara se chamar Coruja Dourada e a marca que de agora em diante trará na testa significa que você é uma Contadora de Histórias, seu sonho sagrado revela que você tem a missão de curar seu povo através de suas Histórias de Poder. 
“E como encontraram 
Tal qual encontrei 
Assim me contaram 
Assim vos contei.”

( Estórias para crianças de poucos e muitos anos - Gislaine Carvalho Rodrigues)

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