a função do amor é fabricar desconhecimento
(o conhecido não tem desejo;mas todo o amor é desejar)
embora se viva às avessas,o idêntico sufoque o uno
a verdade se confunda com o facto,os peixes se gabem de pescar
e os homens sejam apanhados pelos vermes(o amor pode não se
importar
se o tempo troteia,a luz declina,os limites vergam
nem se maravilhar se um pensamento pesa como uma estrela
--- o medo tem morte menor; e viverá menos quando a morte acabar)
que afortunados são os amantes(cujos seres se submetem
ao que esteja para ser descoberto)
cujo ignorante cada respirar se atreve a esconder
mais do que a mais fabulosa sabedoria teme ver
(que riem e choram)que sonham,criam e matam
enquanto o todo se move;e cada parte permanece quieta...
Livrodepoemas, de E.E. Cummings
tradução de Cecília Rego Pinheiro
Assírio & Alvim, 1998, pp 125